São baianas, de Caatiba e Canavieiras, e tem na memória aromas e sabores que as inspiraram para se destacarem como empreendedoras gastronômicas em Santa Cruz Cabrália. Maria Nilza, no Guaiú, e Marta Pinto, em Santo Antônio, estão à frente de belos restaurantes à beira mar e, nos cardápios, o afeto se faz presente.
O aroma do feijão no fogão à lenha da casa da avó ainda acompanha Maria Nilza. Não é à toa que o restaurante há 16 anos no Guaiú tem seu nome acrescido de “no fogão à lenha”. Ela fugiu o mais que pode do fogão.
Morou em São Paulo onde descobriu as maravilhas da grande capital, 12 anos entre idas e vindas para Vitória da Conquista onde a família se instalou. Retornou para conduzir com a irmã um hotel e encarou o desafio que lhe deu a experiência de recepcionar clientes. O trabalho era muito, compensava financeiramente.
A convite de amigos conheceu Porto Seguro e quando viu o mar foi amor à primeira vista. Durante um bom tempo se dividiu entre as duas cidades até ser convidada para fazer o receptivo de um restaurante na Passarela do Álcool. Num dia de folga foi conhecer a orla norte do sul da Bahia e parou no Guaiú.
Conta que sentiu uma energia diferente que vinha no cheiro de terra molhada e entrou em êxtase. Ali começou a história de vida e amor que uniu seu nome ao povoado onde construiu sua marca. Alugou uma casinha para onde fugia nos dias de folga, depois começou a fazer compotas com frutas da região e pensando mais longe, ao perceber que havia apenas um restaurante que nem sempre estava aberto, fez o seu com duas mesas e um balcão.
A experiência na cozinha era pouca, mas o feijão no fogão à lenha encantou o primeiro cliente: um vendedor de motores para barcos que passava pela região e foi embora contando das delicias. No ‘boca a boca’ os seus sabores ficaram conhecidos até estourar em 1996 numa reportagem na revista Veja sobre o litoral brasileiro e referenciada como a “pérola baiana”.
O restaurante pé na areia, num lindo visual da praia do Guaiú é referência nos guias de turismo, recebe visitantes de todo o mundo e os recepciona com o imenso sorriso e simpatia. A equipe é formada por moradores do Guaiú e na cozinha ainda tem o fogão à lenha. No cardápio não pode faltar a carne de sol, memória afetiva presentes desde que tudo começou, e o arroz de polvo.
O aroma do leite fervendo na panela até se transformar em ambrosia é a mais antiga lembrança que remete Marta à cozinha. Morando na roça, a mãe estava sempre mexendo o tacho, fazendo doce para os 6 filhos. O bolo de Santa Terezinha foi a primeira experiência aos 12 anos.
Aos domingos todos iam para a cozinha, cada um fazia um prato, num tempo em que a tradição era frango com macarronada. Marta foi desenvolvendo o prazer e o amor pelas panelas, temperos e sabores, formou-se professora, seguiu a vida como muitas mulheres onde a cozinha é lugar de alimentar a família e receber os amigos. Casada com político importante na região, cansou de ouvir o marido orgulhoso dizer “minha mulher cozinha muito bem”. No fim do mandato do marido, dando um tempo à política, mudaram para Vitória (ES) para ficar mais perto do filho que se transformara em chef premiado.
O marido envolvido com novos negócios e a solidão no apartamento da cidade grande, chamou a atenção do filho que lhe propôs fazer Enem para Gastronomia na Universidade de Vila Velha. Estava há 40 anos fora da sala de aula, mas meteu a cara nos livros e foi aprovada. A faculdade lhe deu a técnica e somou aos saberes que tinha dos temperos.
Seu objetivo era terminar a faculdade, fazer pós graduação, mestrado e se tornar professora universitária. Mas o marido, um homem do campo, resolveu voltar para as terras em Cabrália e, quando viu, ela já estava sonhando em ter um restaurante.
Buscou a parceria com o filho Danilo Amaral e assim nasceu o Marocas Praia, um restaurante com o pé na areia, na praia do Boboca. No 1º ano ganhou o prêmio de melhor prato do 4º Festival da Lagosta, tem uma equipe formada por moradores de Santo Antônio, o bairro onde mora há quase 20 anos, e no cardápio um mix de culinária afetiva e gastronomia contemporânea. Nas sobremesas estão as suas raízes, a ambrosia e o pudim de leite, ambos receitas de Dona Marocas, sua mãe.
- Lea Penteado