Quanto de você é seu? Vou tentar ser mais claro. Quantas de suas ideias são suas? De certo, originalidade hoje em dia é uma coisa quase mítica. Aparentemente, tudo que é produzido culturalmente tem um “ar” de indústria; algo como feito em linhas de montagem.
Do ponto de vista cultural, isso é mais que normal; todos temos “um toque” de nosso berço. Como assim? Imagine como você seria se tivesse nascido em outro país; com uma religião diferente, com costumes diferentes, com ambientes diferentes.
Acho que você entendeu meu ponto. Muito de nós é definido pelos costumes, crenças, valores e ambientes nos quais nascemos e crescemos. Perceba que na última frase eu utilizei a palavra “muito” e não “tudo”; isso significa que nem tudo em você é resultante dos encontros com o mundo.
Existe algo em você que é seu, é único, próprio. O que é? Esse sim é um tema precioso de autoaveriguação, a capacidade de esmiuçar um pouco de si e despir-se de tudo aquilo que contaminou e moldou a sua forma de pensar, agir, falar.
Buscar sua presença além das aparências superficiais e transitórias de como você está agora. Um reencontro com algo por além dos papéis no cotidiano; das máscaras que vestimos todos os dias.
Por que isso é importante? Porque uma pessoa que conta uma mentira repetidamente, corre o risco de começar a acreditar que aquela mentira é verdade. Viver ausente de si e existir como um subproduto cultural, um epifenômeno de músicas, entretenimentos rasos e prazeres fugazes tem um preço. Gostar do vulgar tem um custo. É preciso pensar mais em si.
Mas isso não tem similaridade nenhuma com o egoísmo; pois uma coisa é pensar no coletivo, outra, é pensar com o coletivo. Saber diferenciar o que é seu daquilo que foi implantado em você é distinguir entre suas necessidades e as ambições alheias.
Se você não se reconhece, antes que se dê conta você irá estar se vestindo como a protagonista da série de televisão da moda, com o mesmo corte de cabelo e trejeitos. Quando não sabemos o que queremos, deixamos que o inconsciente coletivo defina por nós.
E você, busca o que é seu ou o que lhe autorizaram a buscar? Quanto de você ainda resta em você? Como você seria se não fosse do jeito que o mundo determinou que você é?
por Marcus Dutra
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